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Travessia Antártica Brasileira 2015: relatos de viagem (3)

 

Dias 13 e 14 de janeiro

 

Programamos passar quatro noites aqui no “monte Johns”, pois temos muito a fazer: amostrar um trincheira da neve em condições ultra limpas e perfurar dois testemunhos de 20 m.

 

Dia 13 de janeiro

 

Posição; 79 graus 55,5 minutos Sul: 94 graus 21 minutos Oeste
Altitude: 2123 m
Temperatura 19 graus negativos (Celsius), vento quase nulo.

Começamos o dia 13 cavando uma trincheira de 3 por 3 metros, por 2 metros de profundidade. Lento e suado trabalho que usou todas as mãos do grupo. Essas trincheiras são essenciais, tanto para amostragem da neve superficial, como também para proteção contra o vento.

Estamos trabalhando dentro da trincheira com temperaturas entre 19 e 20 graus negativos, mas a sensação térmica cai facilmente a menos 30 na superfície desprotegida, o que é evidentemente muito mais doloroso e perigoso. Aliás, falando em frio, sempre estamos com as mãos geladas, pois para manejar as amostras de gelo temos que usar luvas finas cobertas por luvas plásticas (evitando-se assim qualquer contaminação das amostras).

Um de nossos estudos inclui a medição de poluentes transportados de outras partes do hemisfério sul para a Antártica. As concentrações desses poluentes ainda são muito baixas aqui e para medições corretas devemos tomar o máximo cuidado para evitarmos contaminação das amostras (por exemplo, por uma aliança). Assim, muitas de nossas amostragens são feitas nas mesmas condições de laboratórios de chips eletrônicos (ou seja, com roupas ultra limpas, inclusive polainas), o que não é fácil, considerando que temos que tirar parte de nossas vestimentas polares.

 

 

No dia 14 ainda finalizamos duas perfurações de 20 metros.

Refeições: Ainda persiste o mito no Brasil que missões polares requerem algum tipo de alimentação especial, tal como comida desidratada, ou concentrada. Ora, isso foge da realidade. Nossas missões são, em geral, de longa duração, requerem sim uma alimentação hipercalórica e em alguns casos, devido a limitações logísticas, como nossa travessia com somente dois veículos, temos limitação no peso. Assim, desta vez, alternamos alguns pratos prontos (rações) com congelados, certamente com uma proporção maior de carboidratos, mas com algum tipo de carne todos os dias também.

Nossa principal preocupação é a hidratação, assim mantemos sempre uma panela descongelando neve. Desidratação é um problema frequente na exploração polar.

Amanhã, avançaremos 100 km para dentro da bacia de drenagem da geleira da ilha Paine. Na volta, conto mais sobre esta geleira, seu comportamento recente e por que os glaciologistas prestam tanta atenção à sua dinâmica.

Jefferson C. Simões, líder da expedição, em fotografia na frente do acampamento na região do monte Johns
(Posição; 79 graus 55,5 minutos Sul: 94 graus 21 minutos Oeste, Altitude: 2123 m) em 14 de janeiro de 2015.

Ronaldo Bernardo (UFRGS) em roupas de laboratório ultra limpo amostrando neve em uma trincheira na neve antártica. Os pesquisadores brasileiros tentam identificar o transporte de poluentes para o interior da Antártica, por exemplo, o carbono negro (black carbon), um subproduto da queima de óleo e carvão, e também da queima de biomassa.

Luciano Marquetto e Filipe Lindau (doutorandos em Geociências da UFRGS) perfuram o gelo dentro de um trincheira no manto de gelo antártico. As amostras coletadas serão usadas para estudar transporte de poluentes pela atmosfera para o interior da Antártica.

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